quinta-feira, 27 de maio de 2010

O jogo e os processos de aprendizagem

Alguns argumentos de educadores que defendem o jogo como ferramenta importante para o processo de aprendizagem das crianças.

O jogo e os processos de aprendizagem: aspectos cognitivos e afetivos[1]

(...) Jogar significa alegria, divertimento, entusiasmo, confiança, aprendizagens e desenvolvimentos. Vários tipos de jogos existem, entre eles jogos motores (correr, saltar), jogos intelectuais (damas, xadrez, etc.), jogos de regras, jogos competitivos e jogos de cooperação.

(...) O jogo não é simplesmente um “passatempo” para distrair as crianças, ao contrário, corresponde a uma profunda exigência do organismo e ocupa lugar de extraordinária importância na educação. Estimula o crescimento e o desenvolvimento, a coordenação muscular, o pensamento, a iniciativa individual, favorecendo o convívio social e a realização de novas aprendizagens. Estimula a observar e conhecer as pessoas e o ambiente em que se vive.

Através do jogo o indivíduo pode brincar naturalmente, testar hipóteses, explorar toda a sua espontaneidade criativamente. As crianças são levadas à penetrar no ambiente, explorar, aventurarem-se e enfrentarem emoções como correr riscos, realizar novas conquistas , até mesmo, aprender a lidar com frustrações. Também aprendem a negociar, assumir novos papéis, a controlar suas ações e monitorar a dos colegas, entre outras.

O jogo, a brincadeira e a diversão fazem parte de uma importante dimensão da aprendizagem, a ser desenvolvida pelos educadores, a qual denominamos amplamente de ‘movimento lúdico’. O lúdico permite que as crianças explorem a relação do corpo com o espaço, provoca possibilidades de deslocamento e velocidade, ou cria condições mentais para sair de enrascadas. Dessa forma, ela vai então assimilando e gostando tanto, que tal movimento a faz buscar e viver diferentes atividades que passam a ser fundamentais, não só no processo de desenvolvimento de sua personalidade e de seu caráter como, também, ao longo da aquisição de novas ferramentas para pensar e agir (estratégias cognitivas).

(...)

Para Ronca e Terzi (1995, p.96) o movimento lúdico proporciona compreender os limites e as possibilidades da assimilação de novos conhecimentos pelos sujeitos Esta situação “desenvolve a função simbólica e a linguagem, e trabalha com os limites existentes entre o imaginário e o concreto e colaborando para que as crianças conheçam e interpretem os fenômenos a sua volta.”

Quem ensina e quem aprende possuem as mesmas características, como: organismo, inteligência, desejo e corpo, ambos se relacionando entre si e com a aprendizagem que se dá na interação. A interação e os processos de construção dos conhecimentos adquiridos são fundamentais para alcançarmos o significado da educação. E, o uso dos jogos pode auxiliar todo esse processo, tanto no aspecto cognitivo quanto no aspecto afetivo, como. por exemplo, sentir prazer ao aprender algo novo.

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Jogar em sala de aula proporciona momentos ricos em interação e aprendizagem, auxiliando educadores e educandos no processo de ensino e aprendizagem. O conhecimento é a apropriação de um objeto de conhecimento, através das constantes interações entre crianças, outras pessoas, o contexto em que se está agindo e os objetos de conhecimento.

Portanto, é no jogo que se cria, se antecipa e se inquieta, assim, levantam-se hipóteses, traçam estratégias, testam-nas para a busca de soluções. Ao jogar o desejável passa a ser algo obtido através da apropriação de novos conhecimentos.

As situações de jogos atuam no imaginário, no controle e monitoramento das ações e comportamentos por meio das regras, o que proporciona desenvolvimento na medida em que impulsionam conceitos e processos em desenvolvimento.

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Acreditamos que os jogos possam também resgatar o desejo pela busca de conhecimento e tornar a aprendizagem prazerosa, na qual as crianças passem a gostar cada vez mais de aprender.

O papel do educador[2]

Apesar de o jogo ser uma atividade espontânea, isso não significa que o educador não necessite ter uma atitude ativa sobre ela, inclusive, uma atitude de observação que lhe permitirá conhecer muito sobre as crianças com as quais trabalha.
Podemos sintetizar algumas funções do educador frente aos jogos:

Conhecer o jogo e as aprendizagens que ele pode propiciar

Para propor um jogo é preciso antes de qualquer coisa conhecê-lo bem. Para tanto, o educador precisa identificar todos os materiais necessários ao jogo (peças, tabuleiros, cartas, dados, folhas de papel, lápis ou canetas etc.), ter domínio sobre as regras do jogo e sobre o que pode acontecer durante o jogo, conhecer estratégias que favorecem o bom andamento do jogo. Dessa forma, ele pode planejar em que momento pode propor, qual organização do ambiente e das crianças é a mais favorável. Além disso, como se trata de uma situação educativa, é preciso saber quais aprendizagens o jogo poderá propiciar, enfim, o que as crianças podem aprender ao jogá-lo.

Conhecer os educandos

A escolha de um jogo depende do que os participantes já sabem e de suas capacidades. Não podemos propor um jogo que seja tão fácil que desmotive as crianças, tampouco um jogo tão difícil que frustre a todos. Além disso, depende também de saber o que as crianças precisam aprender. Portanto, para propor jogos para as nossas turmas temos que estabelecer objetivos (para que vão jogar?) e resultados de aprendizagem esperados (onde queremos chegar?), e, ainda, definir quais os melhores jogos frente ao que as crianças já sabem e o que precisam ainda aprender.

Providenciar um ambiente adequado para o jogo

A criação de espaços e tempos para os jogos é uma das tarefas mais importantes do educador. Cabe-lhe organizar os espaços de modo a permitir as diferentes formas para jogar, cuidando para que, por exemplo, quando os estudantes estejam realizando um jogo mais sedentário não sejam atrapalhados por aquelas que realizam uma atividade que exige mais mobilidade e expansão de movimentos. Antes de levar o jogo, temo, portanto, que verificar os materiais, mobiliários necessários para realizá-lo; se é necessário espaço externo ao da sala de aula ou se é possível realizá-lo dentro de espaços internos. E ainda planejar os jogos dentro da rotina, possibilitando o jogo em momentos que motivem as crianças a permanecerem na atividade e, posterior a ela, a dar continuidade em outras propostas, por exemplo.

Selecionar materiais adequados e respeitar as preferências de cada um

Através dos jogos cada um terá a oportunidade de expressar seus interesses, necessidades e preferências. O papel do educador será o de propiciar-lhes novas oportunidades e novos materiais que enriqueçam seus jogos, porém, respeitando os interesses e necessidades de seus estudantes para selecionar e deixar à disposição materiais adequados. O material deve ser suficiente tanto quanto à quantidade, como pela diversidade, pelo interesse que despertam, pelo material de que são feitos. Estamos trabalhando com crianças e adolescentes e os jogos devem ser interessantes e instigantes para esse grupo. Faça adaptações e busque materiais adequados.

Permitir a repetição dos jogos

Há um grande prazer em repetir jogos que se conhece bem, porque as pessoas sentem-se seguras quando percebem que contam cada vez com mais habilidades em responder (ou executar) o que é esperado pelos outros; sentem-se seguras e animadas com a nova aprendizagem. Criam estratégias para ganhar e aprendem novas na convivência com os outros. Por isso, um jogo pode ser repetido várias vezes, desde que o desafio de aprimorar estratégias esteja colocado para todos os envolvidos. Ao final de jogos, organize uma roda para que cada criança conte suas estratégias ou dêem dicas sobre como jogar.

Enriquecer e valorizar os jogos realizados

Uma observação atenta pode indicar aos educadores que sua participação seria interessante para enriquecer a atividade desenvolvida, introduzindo novas situações que tornem o jogo mais rico e interessante para todos, aumentando suas possibilidades de aprendizagem. Valorizar as atividades das crianças e adolescentes, interessando-se por eles, animando-as pelo esforço, são ações importantes dos educadores, que funcionam como animadores nessas atividades. Outro modo de motivá-las é servir de modelo, jogar junto ou contar suas estratégias. Muitas vezes o educador, que não percebe a seriedade e a importância dessa atividade para o desenvolvimento, ocupa-se de outras tarefas, deixando de observar atentamente para poder refletir sobre o que as crianças estão fazendo, perceber suas dificuldades e aprendizagens, acompanhar suas novas aquisições e as relações estabelecidas entre elas. Para tanto, pode ser elaborada uma planilha, um guia de observação que facilite o trabalho do educador.

Ajudar a resolver conflitos

Durante certos momentos dos jogos acontecem com certa freqüência pequenos conflitos. A atitude mais produtiva do educador é conseguir que todos procurem resolver esses conflitos, ensinando-lhes a chegar a acordos, negociar e compartilhar.



[1] Adaptado de O JOGO E OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO: ASPECTOS COGNITIVOS E AFETIVOS de Thaís Cristina Rodrigues Tezani. Texto na íntegra disponível em http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/entrID=6

[2] Adaptado de Jogos e Educação Infantil de Vera Lúcia Camara F. Zacharias. Texto na íntegra disponível em http://www.centrorefeducacional.pro.br/

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